Revisitação de pontos centrais no universo literário de Clarice Lispector, Água viva é pura incandescência da inventividade e da linguagem. Uma enigmática voz feminina – toda audácia, delírio e sedução – conduz a narrativa. Esta mulher, cujo nome não sabemos, deseja mudar de ofício e tornar-se escritora. Ela é um eu que reivindica a ocupação de um espaço e de um tempo, que se dirige a um tu misterioso e que propõe o ousado alinhamento de humanos e bichos, natureza e linguagem, rumo ao centro da vida, que Clarice perseguiu em todas as suas obras.
Contestando limites e sem cedências à convenção, este livro inaugura um espaço partilhado entre quem escreve e quem lê: nesta mulher, na sua inquietação ou na sua letargia, nas suas fraturas ou nas suas pulsões, reconhecemos uma humanidade em estado bruto. O tom fragmentário é contrariado por uma cadência de demandas e reflexões tão profundamente individuais como peremptoriamente universais. Um livro desconcertante, que oferece uma hipótese de fusão entre escrita e leitura, forma e tema, corpo e pensamento: radicalmente inovador, ao suspender as fórmulas de representação romanesca, e irresistivelmente transgressor, na exposição das costuras da ficção e da voz lírica.
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