Neste José Matias, belíssimo conto de Eça, aqui publicado, pela primeira vez, numa edição individual, José Matias, o protagonista, já nasce morto. Está uma linda tarde e ele vai a enterrar. Quem revive os enigmas de José Matias, a sua tensa turbulência, a sua agitada e idiossincrática paixão amorosa, é um amigo, professor de filosofia que, com José Matias, partilhou o gosto e a defesa da filosofia de Hegel.
O professor de filosofia interpela outro amigo e convida o a que assista ao funeral, aproveitando a linda tarde que contrasta com a última vez que viu Matias, «numa tarde agreste de Janeiro, metido num portal da Rua de São Bento, tiritava dentro de uma quinzena cor de mel, ruído nos cotovelos, e cheirava abominavelmente a aguardente».
A figura humilde e humilhada, sofrida, de José Matias a tiritar de frio é, obviamente, a figura de um apaixonado. Sofre por amor. Ou talvez se deva dizer que se exalta e transcende por amor.
É essa história de amor – história singularíssima, por ser uma história de recusa do corpo e de exacerbação, talvez perversa, do espírito -, que Eça nos conta, antecipando-se a Freud, ou não caminhasse a ficção alguns passos à frente de muita ciência.
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