” Os contos funcionam como um imenso painel constituído por diversos azulejos onde se recriam situações do mundo hodierno ou, como brilhantemente lhe chamou o autor, é “uma casa com muitas janelas” que confluem para um “pátio” repleto de pequenos “flagrantes” da vida humana repleta de contradições e incertezas. Inseridas no “mundo líquido” da modernidade, como o classificou Gaulejac, liquidez advinda da inexistência de metanarrativas legitimadoras, da contínua presença do multiperspectivismo, da ausência de valores e padrões seguros, as personagens, o sujeito “hipermoderno”, são forçadas a aceitar o desencanto e a desilusão. Nem mesmo a escrita sai imune a esta contínua reflexão.
Por isso, em “Epílogo” termina-se com uma metaficção ao abordar-se os meandros da originalidade e da luta contínua entre o amor e o seu alter ego, a constatar-se que todas as narrativas são influenciadas por tudo o que existe/existiu, a originalidade reside na forma como cada aedo as conta.
João Ricardo Lopes criou, deste modo, um conjunto de narrativas que permite ao leitor posicionar-se numa das muitas janelas do pátio ou ficar na esquina e brincar a uma espécie de jogo de “silêncio e sombra”, de “dito e não dito”, vivenciando quadros da vida moderna com todas as suas incongruências, deceções, ilusões, surpreender-se com as situações narradas e sentir nascer dentro de si a dúvida, a necessidade de observar de outro ângulo a realidade.”
Paula Morais (no Posfácio)
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