«Ao ouvirem os risos, as vozes, as conversas, os sons das crianças a brincar, Harriet e David, no seu quarto, ou talvez descendo as escadas, procuravam a mão um do outro, sorriam e respiravam felicidade…»
Quatro crianças, uma distinta casa vitoriana, o amor da família e a admiração dos amigos. Na desinibida sociedade inglesa do fim dos anos 60, a vida de Harriet e de David Lovatt, um casal de classe média alta, é uma ode gloriosa à felicidade doméstica e aos valores familiares ditos tradicionais. Mas quando nasce Ben, o seu quinto filho, parece nascer também uma sombra perversa e implacável, que se abate sobre este núcleo imaculado.
No início da gravidez, o bebé move-se no ventre de Harriet antes do tempo e de forma impetuosa. Sentindo o filho dentro de si como se estivesse ele próprio «fervilhando de excitação», Harriet experiencia um parto extremamente violento, acompanhado por dores mais intensas do que de qualquer das vezes anteriores. Vigoroso, excecionalmente desenvolvido, agressivo, esfomeado, bestial, Ben exibe um triunfo frio, os olhos brilhantes de prazer intenso. Que ser é este?
Ao prover o cuidado materno ao recém-nascido, e frente a uma treva e a um desafio estranho que nunca havia conhecido, Harriet sente um medo profundo da criança a que acabou de dar a vida e que ao crescer vai destruindo pouco a pouco a família que o gerou.
Com um estilo incisivo de escrita, que suscita a leitura compulsiva e inquebrantável de cada frase até à última palavra, O Quinto Filho é uma das obras de Doris Lessing, vencedora do Prémio Nobel de Literatura (2007), que podemos considerar como um clássico, um romance no qual a língua do amor maternal – o mais puro, o mais absoluto – é descrita de peito aberto e à luz da condição de que a maternidade é, de facto, um conjunto de escolhas impossíveis, por vezes irreconciliáveis com todas as escolhas que a precedem e sucedem.
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