«Um filho desaparecido é um filho que morre todos os dias. Nem mesmo nas mitologias mais cruéis há tragédia equivalente; essa dor nenhum deus teve de suportar. Cada noite, ao cair, desaba sobre os pais com o peso renovado da notícia: você perdeu sua criança e ela está naquela escuridão afora, desprotegida. Essa mensagem silenciosa se impregna nas paredes da casa, nos vãos entre os azulejos, nos ponteiros dos relógios e nas páginas dos calendários, nos retratos da família, no chão que se pisa.»
É esta a morte que Ângela tem enfrentado ao longo dos últimos trinta anos, até ao dia em que decide pôr um fim à espera, certa de que o seu filho, Felipe, não retornará à casa que manteve intacta, nem ao quarto da criança que ele já não será.
A voz de Rafael Gallo, sempre acutilante, acompanha o sofrimento desta mãe, por vezes num grito ensurdecedor, constante como as ondas que vêm rebentar junto ao pontão onde Ângela tenta afogar a dor, outras vezes num grito tão silencioso como a espera.
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