Em Meadowlands, de Louise Glück, as vozes dos protagonistas da Odisseia entrelaçam-se com as de um homem e de uma mulher dos dias de hoje, à beira da ruptura. Glück retrata um divórcio em paralelo com as fracturas da relação de Ulisses e Penélope, capturando um amor gradualmente reduzido a nada. É através do prisma da linguagem que a dissolução do casamento é escrutinada, por uma preocupação pela precisão e pela clareza que expõem os silêncios e a incomunicabilidade no âmago do diálogo.
Afastando-se das correntes americanas de poesia confessional, a poeta compõe uma colectânea polifónica onde o eu nunca é redutível a uma única identidade, onde cada voz participa num vasto todo poético. Neste confronto entre o intemporal e o contemporâneo, Glück cria um campo magnético de poder raro, onde o devastador e o cómico se aliam à metáfora para criar uma poesia forte e com um particular poder de sugestão.
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