A 15 de Fevereiro de 1941, deu-se um ciclone devastador. Entre desgraças trágicas e um rasto de destruição, a mãe de Ângelo voou levada pelo vento. Sem que se saiba como ou porquê, o episódio criou uma brecha no tempo, um desgoverno nas leis do universo, e a mãe passou a viver duas vidas paralelas, uma realidade bifurcada.
Uma, como dona de casa e professora, seguindo a ordem natural das coisas. Outra, a flutuar no outro lado da vida, enquanto cantora lírica saída do Conservatório à procura do mundo, tal como sonhara quando estudava no magistério primário. Uma alvorada suspensa que nunca chegaria a converter-se numa nova manhã.
Através das recordações do filho, a sair de si para um lugar ainda inabitado, a refazer memórias submersas com o eco das vozes que ficaram, vamos conhecendo as pequenas histórias – se é que é são histórias – plantadas pelas grandes ventanias, onde a vida parece sempre dirigir-se para um outro lugar.
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